Vale a pena assistir a “Cem Anos de Solidão” da Netflix? 2t343g

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Confira nossa crítica sobre a adaptação de um dos livros mais populares do escritor Gabriel García Márquez para o streaming

Vista como uma das maiores obras da literatura mundial, Cem Anos de Solidão (Cien años de soledad no original e One Hundred Years of Solitude na versão em inglês), do autor Gabriel García Márquez, ganhou uma versão nas telas após décadas de resistência às adaptações audiovisuais. Com a autorização de seus filhos, Rodrigo e Gonzalo García Barcha, a Netflix explora essa história em uma série limitada de duas partes. 5q1ay

AVISO: atenção, este texto contém SPOILERS da primeira parte de Cem Anos de Solidão. Recomenda-se que você assista a ela, antes de continuar a leitura.

Sinopse 6b313w

Crítica da série Cem Anos de Solidão com cena entre Marco González como José e Susana Morales como Úrsula na juventude (Imagem: IMDb)

Como premissa da trama, após se casarem contra a vontade dos pais, os primos José Arcadio Buendía e Úrsula Iguarán abandonam o vilarejo onde moram para embarcar em uma jornada em busca de um novo lar. Acompanhados por amigos e aventureiros, o casal chega às margens de um rio de pedras pré-históricas, onde fundam uma cidade utópica que batizam de Macondo. Diversas gerações da linhagem dos Buendía marcarão o futuro dessa cidade mítica, atormentada pela loucura, amores impossíveis, uma guerra sangrenta e absurda, e o medo de que uma terrível maldição os condene, inevitavelmente, a cem anos de solidão.

Livro x série: o que é adaptação e o que é criação original 4t1k2i

Diego Vásquez como José Arcadio (Imagem: Netflix)

A adaptação do livro para a Netflix, criada por José Rivera e Natalia Santa e dirigida por Alex García López e Laura Mora Ortega, é uma tradução ambiciosa da obra-prima de Gabriel García Márquez, que consegue manter a essência e a complexidade do livro, mas também se propõe a introduzir ajustes necessários para o formato audiovisual. Embora a série não tenha medo de abraçar o simbolismo e a prosa poética de Márquez, ela enfrenta o desafio de transformar um romance essencialmente introspectivo e denso em uma narrativa visual dinâmica que prenda a atenção do espectador.

No livro, o fluxo narrativo é marcado por uma escrita sem diálogos convencionais, onde o narrador onisciente guia os leitores pelas gerações da família Buendía na cidade fictícia de Macondo. Essa estrutura se traduz de forma desafiadora na tela, e a série se utiliza de diálogos mais elaborados do que na obra original, para conseguir avançar a trama e proporcionar uma profundidade maior aos personagens. Embora muitos desses diálogos sejam extraídos diretamente do texto, há momentos em que a adaptação se distancia um pouco da sutileza da prosa, criando uma sensação de maior literalidade, que, por vezes, contrasta com o ritmo mais fluido do livro.

Já em relação aos aspectos visuais, a série acerta em cheio ao capturar o espírito surreal e poético do romance. Imagens como o sangue serpenteando pela cidade ou o movimento contínuo pela casa da família Buendía são representações impactantes dos elementos mágicos da obra, algo que poderia facilmente parecer exagerado se não fosse bem executado. No entanto, a intensidade poética do livro, que muitas vezes se sustenta na sua capacidade de deixar espaço para a interpretação, é mais explícita na tela, podendo ser vista como algo mais literal ou “mastigado”, digamos assim. 

Em termos de narrativa, a produção, que retrata metade do livro em seus primeiros oito episódios, opta por acelerar algumas agens, mas ainda assim tenta manter a lentidão contemplativa da história – fator que, inclusive, pode ser motivo de incômodo para os espectadores que preferem episódios mais curtos e/ou dinâmicos. Porém, para quem leu o livro, pode ser que a escolha dos trechos acelerados não tenha sido boa. Por exemplo, o encontro do coronel Aureliano Buendía (Claudio Cataño) com a visão de seu pai, que teve mais densidade no texto original.

Personagens e atuações 622l2h

Claudio Cataño em Cem Anos de Solidão (Imagem: IMDb)

A atmosfera criada pelo elenco é tão imersiva que, por momentos, a sensação é de que você se torna um dos Buendía e acaba absorvendo todas as emoções que são exploradas nesse universo. A atriz Marleyda Soto, no papel de Úrsula Iguaran, entrega uma performance marcada pela objetividade e pela dureza implacável, enquanto Claudio Cataño, na pele de Aureliano adulto, explora a angústia de um homem consumido por premonições e desejos malfadados. 

Atriz Laura Grueso como Rebeca (Imagem: Netflix)

Nicole Montenegro e Laura Grueso, que interpretam as versões jovem e adulta de Rebeca, conseguem ter um domínio ímpar nas telas. Entre alguns momentos, vale destacar a cena em que a jovem Rebeca chega à porta dos Buendía com um saco de ossos, e mais tarde, quando a personagem se torna uma mulher ousada e ambiciosa.  Vale destacar também o desenvolvimento de José Arcadio (Diego Vásquez). Sua obsessão pelas invenções e alquimia substitui a preocupação com sua família, levando-o a um isolamento crescente.

Aspectos técnicos 2k1142

Claudio Castaño como Aureliano Buendía nos bastidores de Cem Anos de Solidão (Imagem: El País)

A cidade fictícia de Macondo, ambientada na Colômbia, em Cem Anos de Solidão, é o cenário onde os destinos da família Buendía se entrelaçam, e sua estética vibrante e intimista define o tom da série. Com suas cores vivas e a forte conexão com a natureza, Macondo se torna mais do que um simples palco: é um reflexo da própria alma dos personagens. 

Inclusive, a casa da família Buendía, meticulosamente projetada, serve como representação do coração físico e metafórico da narrativa. Ela é um lugar de crescimento e transformação, simbolizando a evolução tanto da família quanto da cidade. Quando os problemas do mundo começam a invadir Macondo, a beleza do lugar se torna ainda mais impactante, intensificando a tensão emocional à medida que os personagens enfrentam mudanças profundas.

Ainda sobre o aspecto visual, a fotografia impressionante de Paulo Pérez e María Sarasvati consegue traduzir a fantasia para imagens deslumbrantes e poéticas. A expansão de Macondo para as telas e as gerações dos Buendía são capturadas com uma atenção cuidadosa aos detalhes, enquanto o cenário se transforma, assim como os próprios personagens. 

Já a produção de Bárbara Enríquez e Eugenio Caballero traz à tona elementos do realismo mágico com perfeição, como o sangramento de uma jovem na banheira do rio ou o fantasma de um homem morto que insiste em assombrar os vivos. A série resiste à pressa, permitindo que cada cena se desenrole com um ritmo contemplativo, seja no diálogo entre os personagens ou nos pequenos detalhes da vida cotidiana, como o trabalho de Úrsula na cozinha, que se torna um reflexo das tensões familiares e sociais.

Diego Vásquez como José e Marleyda Soto como Úrsula (Imagem: IMDb)

Por fim, vale destacar a transição entre as versões mais jovens e adultas dos personagens. Cem Anos de Solidão faz isso com grande sutileza, e duas das mudanças mais marcantes estão nos personagens José e Úrsula. As atuações de Marco González e Diego Vásquez como José e de Susana Morales e Marleyda Soto como Úrsula, respectivamente, trazem uma continuidade que conecta as gerações, dando à trama uma fluidez emocional. É interessante observar que, enquanto Úrsula ganha mais empatia e profundidade ao longo da trama, José se transforma e vai de um jovem sonhador para um homem obcecado por suas invenções.

Conclusão 705e6i

Cena da série Cem Anos de Solidão da Netflix (Imagem: IMDb)

A adaptação da obra literária Cem Anos de Solidão para o streaming consegue capturar a essência do espírito do realismo mágico que permeia a história de Gabriel García Márquez. De forma sutil, os diretores introduzem momentos marcantes sem que a narrativa pareça forçada ou exagerada, prezando pela naturalidade e pela abordagem despretensiosa ao trabalhar o surrealismo presente no texto original. Então respondendo a pergunta: sim, vale muito a pena conferir a série!

Essa característica foi estendida aos temas mais delicados e pesados que a série retrata, como o abuso e outras violências. A produção consegue colocar o espectador em uma posição desconfortável para que o faça confrontar essas questões, ao contrário do livro que, por ter uma narrativa mais distante, não oferece tanto esse lugar. 

Filmada na Colômbia, com um elenco majoritariamente colombiano, a série, lançada em 2024, leva o público a uma viagem que transcende o tempo e a memória, refletindo a natureza cíclica da história e os inevitáveis erros do ado que insistem em assombrar a cidade. Mais do que uma simples adaptação, a produção representa um tributo delicado ao legado de Gabriel García Márquez, conseguindo recriar não apenas a história, mas também a essência que caracteriza o enredo original.

Onde assistir 5l83a

A primeira parte de Cem Anos de Solidão, que possui oito episódios, está disponível na Netflix. O lançamento da segunda parte está previsto ainda para esse ano, também com oito episódios.

O intervalo entre as partes da série pode ser uma oportunidade para que os espectadores que não estão familiarizados com o livro se aprofundem na obra de Márquez e consigam identificar as nuances e diferenças entre literatura e adaptação para o streaming. 

Veja o vídeo  4e1b1a

Veja também 

FONTE

Netflix

Revisado por Tiago Rodrigues em 10/02/2025

CRÍTICA: "Cem Anos de Solidão” da Netflix 3d3v3c

CRÍTICA: "Cem Anos de Solidão” da Netflix
9 10 0 1
Vale a pena! Cem Anos de Solidão. A série da Netflix é uma adaptação ambiciosa e visualmente deslumbrante do clássico de Gabriel García Márquez, que consegue capturar a essência da obra enquanto lida com as complexidades da transição do livro para o audiovisual.
Vale a pena! Cem Anos de Solidão. A série da Netflix é uma adaptação ambiciosa e visualmente deslumbrante do clássico de Gabriel García Márquez, que consegue capturar a essência da obra enquanto lida com as complexidades da transição do livro para o audiovisual.
9/10
Total Score
  • Roteiro
    9/10 Incrível
    A adaptação do roteiro é fiel ao livro, mantendo sua poética e complexidade, mas às vezes cai em formalidades excessivas e dificuldades ao balancear o realismo mágico com os elementos mais pesados da história.
  • Personagens
    10/10 Excelente
    As atuações são marcantes e profundas, com destaque para a transição de fases dos personagens.
  • Ritmo dos episódios
    8/10 Ótimo
    O ritmo da série é lento e ponderado, o que pode ser desafiador para alguns, mas permite uma imersão detalhada na trama e no universo de Macondo, enfatizando a agem do tempo.
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